Predadoras quase hábeis

Uma planta carnívora será por definição um organismo pluricelular, heterotrófico e autotrófico, com capacidade para capturar, digerir e extrair os nutrientes das respetivas presas que encontra. Se falamos em plantas com hábitos heterotróficos, pensamos em dioneias, pinguiculas, dróseras ou utriculárias.

Porque quando pensamos, depressa nos ocorre que todas possuem em si alguma estrutura passiva ou ativa responsável por capturar, digerir e extrair.

Mas o que dizer de plantas portadoras de uma estrutura captora, desprovida de enzimas digestivas próprias? A rorídula tem folhas resinosas, capazes de grudar qualquer presa que aí pouse, sendo um inseto do género Pameridea o autor da digestão. Esta planta, por não produzir as suas enzimas, recorre a uma simbiose para obter os nutrientes que jamais decomporia por si mesma, absorvendo-os a partir das fezes do inseto quando este devora as presas coladas às folhas.

As bromeliáceas são conhecidas monocotiledóneas epífitas, servem-se do seu rosáceo corpo em poço para coletar água da chuva e detritos vegetais. Ocasionalmente um ou outro inseto escorrega e afoga-se, o que para as plantas implica um bónus apesar da ausência de enzimas para consumir o animal. A digestão fica a cargo de bactérias criadas na água aí recolhida. No entanto, neste ponto, a Brocchinia reducta constitui uma rara exceção. É claramente uma bromeliácea adaptada ao heterotrofismo, produtora de enzimas digestivas próprias. As folhas têm um brilho fluorescente característico, quando expostas à radiação ultraviolenta; produzem inclusive odores e secreções cerosas com o intuito de atrair e derrapar os insetos em cuja superfície pousem.

Outras plantas, contudo, apresentam estruturas captoras e não dispõem de uma relação simbiótica para contornar a falta de enzimas. Em escapos, brácteas e botões de exemplares do género Passiflora, Plumbago e Stylidium há tricomas viscosos tão semelhantes, tão peganhentos e tão letais quanto os das folhas das dróseras ou os do corpo do z, não se compreendendo até hoje o porquê de os haver visto não se ter ainda confirmado a presença absoluta de algum processo digestivo.

Serão esses tricomas um indicador ou um princípio de heterotrofismo?

Certas plantas denotam um potencial comportamento carnívoro, mas à falta de provas sobre a presença de enzimas ou sobre os motivos da existência de estruturas captoras, não se torna sensato considerar carnívoras essas plantas. Para sanar tal incerteza cunhou-se o conceito de protocarnivorismo, um termo escolhido para sugerir a possibilidade evolutiva de um comportamento carnívoro completo, ficando em suspenso a futura inclusão dessas plantas no grupo das carnívoras mal novos indícios surjam.

Carlos Henrique Batista da Costa



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