TENET – UMA CRÍTICA

À luz das renovadas medidas de segurança nesta altura de pandemia, que dificultam as idas ao cinema, é talvez menos relevante falar de um filme ainda em exibição que de um filme menos recente, mas mais fácil de encontrar nos variados serviços de video on demand. E, para esse efeito, temos “Tenet”, originalmente publicado em meados de 2020.

 

Depois de aclamados êxitos de bilheteira como sejam “A Origem” (2010), “O Terceiro Passo” (2007) e toda uma triologia do Batman, Christopher Nolan já não tem provas a prestar, e “Tenet” (2020) não desapontará os espectadores que o vejam à espera da qualidade a que o realizador e guionista já nos habituou.

 

Desde a primeira cena do filme que “Tenet” convida a comparação com “A Origem” (2010), que, de forma semelhante, começa com uma cena de acção cujos pormenores quase não têm qualquer relação com o resto do filme, mas que serve para apresentar devidamente o protagonista. No entanto, não obstante as evidentes parecenças estilísticas, ao invés de um protagonista interpretado por um nome sonante da indústria cinematográfica, “Tenet” coloca no principal papel um nome menos conhecido, John David Washington, que certamente ainda não atingiu o estrelato do seu pai, Denzel Washington, e rodeia-o de actores mais reputados, como sejam Robert Pattinson e Sir Kenneth Branagh. Se, por um lado, o atleticismo do actor principal, que considerou uma carreira no desporto profissional antes de se voltar para o cinema, é um crédito a favor deste filme com intensos elementos de acção física, o contraste entre as suas habilidades enquanto actor e as dos actores que o rodeiam torna-se talvez um demérito.

 

Mesmo assim, desde o primeiro momento que o filme brinda o espectador com imagens visualmente gratificantes, com cores saturadas e convidativas, mesmo nas cenas com menor contraste visual, e uma banda sonora que puxa e prende o espectador à acção de cada cena.

 

Mais uma vez à semelhança de “A Origem” (2010), que se baseava na premissa de construir e partilhar sonhos, “Tenet” depende de um elemento fantasioso que, em prol de não estragar a experiência de um espectador que ainda não tenha visto o filme, não será aqui revelada, mas, ao contrário do que sucede no filme anterior, essa peculiariedade deste filme não é devidamente explicada nem explorada desde os primeiros momentos, criando antes uma expectativa e um crescendo até ao último acto do filme, no qual uma magnífica cena de acção tira todo o proveito da possibilidade particular que o filme apresenta, recompensando o espectador pela paciência com que é preciso encarar as cenas que servem primeiro a trama e a audiência só depois.

 

Apesar de não demonstrar o andamento brilhante de “O Cavaleiro das Trevas” (2008), que equilibrava e justapunha impecavelmente cenas lentas de exposição com cenas de acção mais entusiasmentes, “Tenet” consegue, por vezes, conciliar as duas coisas, optando por demonstrar, mediante uma cena de acção, o que noutro filme poderia simplesmente ser dito. Mas, graças à sua misteriosa premissa fundamental, “Tenet” não é só um filme de acção, mas antes uma trama elaborada e complicada que convida a ser visto mais que uma vez, mas mais gentil que, por exemplo, “Primer” (2004), que exigia ser visto várias vezes e cuidadosamente analisado de cada vez.

 

Se mais nada “Tenet” é um brilhante exercício técnico que coloca o limite das possibilidades do cinema um pouco mais além do que era anteriormente julgado. Como, aliás, é de esperar de Christopher Nolan.

 

Pedro Polónio.



Este site utiliza cookies para permitir uma melhor experiência por parte do utilizador. Ao navegar no site estará a consentir a sua utilização. Mais informação

The cookie settings on this website are set to "allow cookies" to give you the best browsing experience possible. If you continue to use this website without changing your cookie settings or you click "Accept" below then you are consenting to this.

Close