21 Ago Parentalidade positiva
Como manter um bom relacionamento entre pais e filhos
O vínculo que se estabelece entre os fi- lhos e os seus cuidadores é uma parceria de construção permanente, que tem início desde o conhecimento da gravidez.
Existe a necessidade de um envolvimento mútuo e recíproco de todos os intervenientes para que se construa um elo sólido, afectivamente enriquecedor, que permita que a criança desenvolva um sentimento de segurança e confiança em si própria e na relação que estabelece com os outros e demonstre uma autonomia crescente. Quando existem carências na relação parental, a criança sente-se impotente, desamparada e incapaz de encarar os desafios que a vida lhe coloca.
A parentalidade positiva é um conceito que surge para reforçar o papel dos cuidadores no desenvolvimento e educação contínua dos seus filhos. Apenas quando a educação ocorre num ambiente harmonioso e o comportamento parental vai de encontro ao melhor interesse da criança, respeitando sempre os seus direitos, é que é possível contribuir para um crescimento e desenvolvimento plenos (físico, emocional, psicológico e social).
Atualmente, assiste-se a uma dificuldade crescente no estabelecimento de uma relação parental saudável, pelo que se propõem alguns conselhos para fortalecer este relacionamento:
1. Mantenha uma comunicação constante e genuína e escute o seu filho
O diálogo frequente deve ser a base do relacionamento parental, mesmo estando a criança numa fase pré-verbal, pois é através deste comportamento que os filhos percebem que têm alguém que se importa com eles. Através da comunicação, o cuidador pode ajudar o seu filho a entender e a lidar com as suas emoções, apresentar estratégias para gerir situações problemáticas ou causadoras de ansiedade, contribuindo para que esta se torne numa pessoa segura, confiante e autónoma.
A verdade deve estar sempre presente na relação, pois nem sempre a melhor solução passa por esconder ou evitar o sofrimento, e nada deverá abalar a confiança estabelecida. É importante ser-se humilde e admitir que não se sabe todas as respostas.
A escuta ativa é um processo que exige autodisclipna. É importante saber ouvir sem interrupções e entender a perspetiva dos filhos antes de opinar.
2. Esteja presente e partilhe momentos de qualidade
Estar presente não é ser presente.
O filho deve sentir a presença constante do cuidador, em qualquer momento da sua vida, seja ele bom ou mau. Estes momentos são oportunidades únicas de interação e os sentimentos de apoio e motivação são insubstituíveis.
Apesar das exigências laborais crescentes, deve-se conciliar a vida profissional com a vida familiar. Por vezes, apenas 10 minutos diários de convivência de qualidade pode fortalecer e trazer grandes benefícios para a relação. Esse tempo em conjunto deve ser encarado como uma prioridade e deve-se adotar uma postura consistente no cumprimento desse mesmo compromisso, que para além de breve, é simples e possível. O cuidador deve mostrar à criança que ela é mais importante do que tudo o resto e não permitir que nada interfira nesse momento (telemóvel, televisão, etc.).
3. Elogie, apoie o seu filho e faça críticas construtivas. Disciplina positiva
Os cuidadores devem reconhecer as conquistas dos filhos, mesmo que pequenas superações diárias, e demonstrar que se sentem orgulhosos.
Caso seja necessário realizar alguma crítica, o diálogo deve ser estabelecido num momento adequado, com tom de voz cal- mo. Devem-se mostrar formas de agir e como determinados aspectos podem ser melhorados, ressaltando sempre as qualidades da criança para que a sua auto-estima não seja afetada. É importante o filho sentir que o cuidador o ama em qualquer situação, aceita as suas particularidades e que o sentimento não mudará, mesmo em decisões divergentes ou erros cometidos.
Quando o cuidador necessita de ter uma atitude firme, nunca deve optar pela agressividade e as culpabilizações e/ou recriminações não trazem qualquer benefício. As regras a respeitar devem ser explicadas aos filhos desde o início e as ordens devem ser dadas com educação, uma a uma, de forma específica, assertiva e devem ser adequadas à faixa etária. Quando for necessário reagir a um mau comportamento, deve-se explicar a reação e, se necessário, pode-se utilizar o sistema de retirada ou redução temporária de um privilégio (como intervalo para brincar, uso de televisão ou telemóvel, entre outros).
4. Dê liberdade
Os cuidadores devem orientar os seus fi- lhos sem nunca deixarem de respeitar a sua essência e particularidades. Só quando se permite a livre expressão é que se consegue construir uma personalidade firme e confiante.
5. Seja um exemplo
Desde o nascimento que as crianças observam os seus cuidadores e é através dessa observação que aprendem a agir e modelam o seu comportamento. É necessário ter uma conduta adequada pois todas as atitudes tendem a ser imitadas.
É importante destacar que, por maior proximidade que exista na relação, a hierarquia familiar não deve nunca ser quebra- da. Para uma parentalidade positiva, é essencial a existência de um equilíbrio entre a amizade, amor, respeito e autoridade.
O relacionamento parental é um desafio diário e mesmo nos momentos difíceis, deve-se continuar a construir (e reparar) a relação. O tempo é precioso e deve ser aproveitado com quem amamos.
Por: Clara Gomes – Pediatra, Viseu